sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Como tudo começou

Deixamos o registro da apresentação que a Ana Paula Cury fez em 2009, sugerindo a criação da escola de pais. Percebemos que nestes 3 anos de existência muitos frutos foram colhidos e esperamos que o blog seja mais uma ferramenta que contribua com a geração de novas iniciativas! 


A idéia de criar um seminário para Pais na Escola Waldorf Rudolf Steiner já vinha ganhando força há algum tempo com o reconhecimento de que para que esta pedagogia realmente aconteça é necessário contar com educadores (pais e professores) que assumam a responsabilidade por sua própria auto-educação e formem uma parceria consciente e livre em torno do mesmo propósito – o desenvolvimento sadio de nossas crianças. 
Muitos pais, de fato, sentem a necessidade de buscar conhecimento para acompanhar melhor o desenvolvimento dos filhos, sobretudo numa escola cujo currículo está assentado sobre bases tão diversas daquelas que regeram a sua própria vida escolar. Muitos querem compreender melhor a proposta da educação Waldorf e, não encontrando outro encaminhamento para este anseio, acabam se inscrevendo para o Seminário de Formação de Professores Waldorf, mesmo não tendo a intenção de exercer a função.
Sabemos, no entanto, que a necessidade dos pais precisa ser contemplada de um ponto de vista distinto daquele que é tratado no seminário, o qual, realmente, não foi concebido para este fim.
Em 2006, a idéia já constava do Plano de Ação e Macro Objetivos traçados no encontro de Vinhedo. Considerando-se que naquele encontro toda a comunidade esteve representada, creio que podemos assumir a legitimidade da proposta.
Há talvez ainda outra justificativa de caráter mais espiritual. Mesmo em nossa comunidade não estamos livres de situações tão presentes no mundo contemporâneo que evidenciam a manifestação de forças adversárias ao verdadeiro desenvolvimento do ser humano segundo os critérios e valores que esta escola sempre procurou preservar.
Steiner repetidamente exortou à leitura sintomatológica dos acontecimentos -- uma que buscasse suas causas espirituais subjacentes sem cujo conhecimento seria impossível chegar a uma solução efetiva e duradoura. Num exercício de leitura diagnóstica, penso que estas manifestações resultam de um lento e gradual afastamento, ou esquecimento da essência e do espírito que deveria animar esta escola, por um grande número de pessoas.
Esta escola nasceu da vontade de seres humanos imbuídos do espírito antroposófico. Aqueles que atuavam como mestres e também os que a procuravam para confiar seus filhos, na sua maioria, conheciam os fundamentos da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf. Com o tempo isto foi se perdendo, se esvaziando, em certa medida, e cedendo a oportunidade para a entrada de forças que hoje se fazem sentir na animalização do corpo no âmbito do querer --visível nos atos de violência, por exemplo; na vegetabilização da alma no âmbito do sentir--que se expressa na falta de escrúpulos, na indiferença, num adormecimento da consciência moral; e na mecanização do espírito no âmbito do pensar – na visão reducionista do ser humano e do mundo, na exposição desmedida à mídia eletrônica, etc. 
Este é o maior ideal da Pedagogia Waldorf. Formar seres humanos livres, capazes de fazer a diferença no mundo. E nós temos a oportunidade de contribuir para a realização deste ideal na medida em que escolhemos para nossos filhos uma escola orientada por esta concepção e princípios. Mas qual é a nossa parte nisso? Será que a reconhecemos e estamos suficientemente compromissados com ela?
Hoje, podemos perceber a crescente manifestação destas três forças adversas, insidiosamente se imiscuindo em nossas vidas, como um desafio real para todos.
Podemos senti-las nos episódios de vandalismo, nas diferentes formas de adicção, nos freqüentes atritos na esfera das relações, na falta de interesse pelas necessidades dos outros, na pouca compaixão, na intolerância, na sexualidade desenfreada e prematura, no uso de entorpecentes como busca de gratificação ou compensação para outras coisas, na visão reducionista, consumista e materialista do mundo e do homem. Elas atuam tal como germes patogênicos que encontrando oportunidade para isso, penetram no organismo social-espiritual, colonizando-o, nele se multiplicando e levando-o a adoecer. Nossos atos cometidos por influência destas forças são como sinais e sintomas de uma infecção anímica. 
Ora, a susceptibilidade de um organismo está ligada a sua baixa imunidade. Quando as defesas orgânicas estão em ordem, quando a salutogênese é praticada, é mais difícil adoecer. Imaginemos agora nossa escola, como um organismo social-espiritual, como um ser vivo.
Que significaria para ele uma boa imunidade? A imunidade é a expressão a nível biológico do senso de identidade e missão de um ser. O sistema imunológico é justamente aquele cujas células procuram distinguir o que é próprio do organismo do que lhe é estranho e então, englobar e eliminar o que não lhe pertence como self. 
Ele funciona como um permanente estado de vigilância e atenção. Como poderíamos então, enquanto organismo social, enquanto comunidade, desenvolver ou adquirir uma boa imunidade, uma capacidade de reconhecer e lidar adequadamente com a presença destas forças adversas?
Como podemos resgatar um senso de IDENTIDADE que nos fortaleça perante os desafios do mundo contemporâneo? Qual a nossa parte e tarefa neste organismo- escola enquanto pais?
Entendemos que ao trabalhar oferecendo aos pais acesso aos conteúdos da antropologia de Steiner e fomentando a auto-educação estaríamos revitalizando também os alicerces espirituais desta comunidade escolar, lembrando sua real identidade e honrando sua missão.


PROPOSTA
A Escola de Pais se traduz em uma série de oficinas – algumas em módulos e outras permanentes - com o intuito de proporcionar aos pais a vivência e fundamentação de elementos da pedagogia Waldorf tal como são experimentados no currículo por seus filhos. Nelas se tem a oportunidade de conhecer o significado e a importância de tais vivências na formação do ser humano.
Assim, já contamos com oficinas de trabalhos manuais, arte da fala, jardinagem, metal, trabalhos em madeira, ginástica Böthmer, oficina para confecção de enxoval do primeiro ano, etc. Há também um grupo de estudos que parte das perguntas e desafios com os quais os pais se defrontam no dia a dia em sua tarefa de educar os filhos. Para estas perguntas tentamos trazer textos e conteúdos antroposóficos que possam lançar luz sobre tais questões possibilitando uma nova prática, que esteja de acordo com a compreensão adquirida. Ou seja, trata-se de uma oficina de labor pessoal onde nos lapidamos e procuramos agir a partir de uma consciência maior do desenvolvimento da criança, suas necessidades reais, e como atendê-las de maneira adequada.
Esperamos com isto dar início a um movimento que fomente a busca por e o compromisso com um desenvolvimento baseado na auto-educação e no conhecimento de conteúdos da Ciência Espiritual de Steiner. Temos a convicção de que isto também trará frutos no âmbito das relações sociais e revitalizará as bases espirituais do nosso caminho interior.